Tuesday, March 31, 2009

A Mentira da Verdade


A realidade tem muitas faces, muitas caras, muitas perspectivas diferentes. De cada ponto de onde nos encontramos e contemplamos o que à nossa frente se evidencia, vemos distintas realidades, que mudam a nossa forma de ser, de reagir e de estar. E assim, falamos da mesma realidade, mas com distintas interpretações, o que nos leva invariavelmente às discussões de opinião, às discórdias, ao escárnio e ao mal dizer. Mas também ao enriquecimento do conhecimento, à evolução do ser, e à solidificação das bases de entendimento. Tudo dependerá de cada um de nós, e da consciência que temos e fazemos das nossas sociedades (sentido lato ou restrito).

No seio destas realidades, e das ilusões de realidades, surgem as tramas, as injúrias, as invejas, a contra-informação, as lutas de poder, as associações e alianças, a busca da verdade suprema e absoluta, a honra e a sua defesa, a moral e bons costumes, a honestidade, a mentira. Ao de cima vêm as nossas melhores ou piores qualidades, consoante aquelas a que damos mais valor e do carácter de cada um.

As verdades desmultiplicam-se à velocidade em que as nossas sociedades se movem, e ganham a força da sua maioria e das massas que nelas são empregues num empenho sem fim nem medida. As nossas culturas moldam-se às realidades assumidas ou impostas, os nossos hábitos cedem e adaptam-se. Os nossos ritmos e objectivos de vida ganham renovadas faces. Deixamos de olhar com os mesmos olhos de crianças, e passamos a olhar com olhos adultos e responsáveis cuja realidade que à sua frente se estende é de um caminho sério e pomposo.

E no fim de contas, o que acabamos por ter é uma realidade de múltiplas dimensões, vista de prismas diferentes, e que nos releva uma distorcida verdade – a mentira. Não se trata da mentira consciente, daquela que elaboramos cuidada e meticulosamente com vista à concretização de algum objectivo mais ou menos nobre. Sim, podem existir motivos nobres por detrás de uma mentira. Mas aquela mentira que é verdade, aquela em que acreditamos genuinamente, com todas as nossas forças e crenças, mas que afinal, se revela, mais ou menos tarde, por ser uma mentira.

Há momentos em que o nevoeiro se esfuma, em que mudamos de lugar, de perspectiva, e que tomamos conhecimento de algo mais forte dentro de nós e dos outros, algo suprimido e recalcado ao longo do tempo, e aí se revelará a mentira da verdade em que vivemos durante tanto tempo. O equívoco supremo, a verdade nua e crua despida das suas vestes imaculadas para se revelar no que realmente é – suja, feia, fria, sem qualquer graça nem sentido, dissimulada nas mais prazenteiras demonstrações de verdade incontestável.

O que era verdade passa a ser mentira, os valores mais que absolutos não passam de tristes passagens da nossa história, e a nossa vida passa a ter um sentido completamente diferente.

A mentira da verdade leva-nos ao estado de admiração e indignação pela sua óbvia e natural realidade, e posteriormente a uma serenidade e harmonia pela descoberta de uma nova verdade oculta. Mas até quando?

Saturday, March 28, 2009

Kamikaze - A Ilusão da Fama

Kamikaze: Olhem... estou no grande ecrãn! Sou famoso!!!!


Kamikaze: Hoooooooooooooohooooooooooooooooooooooooo!!!

Kamikaze: Schmack!


Kamikaze...
...o meu outro hamster,
referido no post "Houdini" de 25 de Fevereiro de 2009

Wednesday, March 25, 2009

Passeios... mas por perto

Não! Não pensem que vos vou descrever um passeio magnífico repleto de paisagens deslumbrantes, sitios exóticos e culturas desconhecidas.
Infelizmente, não se trata nada disso...

Finalmente, dei uso à mminha "nova" bicicleta comprada no passado mês...
...de Outubro de 2008!

Sim...já lá vão 5 meses desde que a comprei.
Uma bicla BTT, à maneira, com equipamento em condições mais acessórios como luvas (oferta de colegas), capacete, material para manutenção, etc...

Fiz um circuito de 30 Km (circuito básico, diziam eles :S) onde terminei mais morto que vivo. Pois... é assim, uma pessoa pára anos a fio e depois não se aguenta nas canelas!!!

Pois é, mais volta menos volta, acabei por encostá-la os restantes meses até hoje. Na semana passada troquei a corrente e dei uma afinadela (ou seja, paguei a quem a fizesse que eu não sou entendido na matéria) tal não era o estado da coitada por estar parada. A corrente.... bem.... quase partida da ferrugem!

Hoje dei uma volta de 10,5 Km.
Sim... foi calminho. Aproveitei para conhecer um pouco mais as redondezas da minha nova localização habitacional. Muito giro. Muito campo, muitos prados verdes com flores amarelas, muitos pinheiros e outras árvores cujo nome desconheço. Muitos coelhos bravos. Muitos pássaros diferentes, lagos, riachos, campos de golf, moínhos, aldeias, igrejas, muita vinha aqui e ali, plantações diversas...
...e um silêncio só rasgado pelos sons da natureza com uma ou outra intromissão pontual humana (alguém a falar com a vizinha, um camponês a saír da taberna com um último "até mái logo", uma ou outra viatura muito rara...).

Escusado será dizer que fui parando pelo caminho, tirei umas fotos e apreciei o descanso.


Apesar de tudo cheguei cansado, tal não está o meu estado físico.
Vou ter de repetir a dose mais vezes, com mais atino pelo físico, complementado por umas idas ao ginásio.

Mas antes de mais...
...deixem-me gozar de uma geladinha aqui no jardim enquanto recobro forças e contemplo o pôr do sol lá longe...por detrás de um monte com uma vinha rodeada de intenso agrupamento de árvores...


hum..... bem geladinha.....

Andar torto por linhas direitas...

Este país anda torto, por linhas certas. É o que digo.
Inebriados? Talvez.... adormecidos!

Com tanta burocracia (apesar das melhorias já verificadas), da falta de justiça, da educação mediocre, do dinheiro esbanjado sem qualquer travão, da saúde que anda pela morte (apesar de ter melhorado, mas muito pouco), dos investimentos sem nexo, das derrapagens vertiginosas, dos reinados e quintinhas, ....de tanta coisinha má, ainda cá estamos firmes e hirtos que nem barras de ferro (com alguma ferrugem e muita amolgadela, é certo).

Não... este país, esta gente, a nossa cultura tem coisas fantásticas, belas e únicas. Cada um que defenda o seu. Portugal continua a ser e sempre será o meu canto, a minha origem, a minha raíz, para onde sempre voltarei e com muito orgulho.

Mas não posso deixar de me sentir traído, desmotivado, zangado, enraivecido, pela forma como os diversos governos (centrais e locaios) gerem o seu capital, os seus recursos, as suas valias, e desprezam as suas maiores qualidades. Não posso deixar de me sentir inquieto quando vejo empresas a tirar proveito de tanta falta de justiça, de tanta falta de fiscalização. Não posso deixar de me sentir triste e sem esperança com tanta falta de brio profissional.... em todas as áreas privadas ou públicas.

Como posso ficar impávido e sereno quando vejo empresas a descurar descaradamente os seus clientes e a tirar partido das suas fraquezas?
Fazemos o quê? Queixa?

Pois bem!
Faça-se queixa.
À justiça? não compensa, para além de entupida o resultado financeiro ao fim de 3 ou 5 anos de tribunais seria desastroso, e a maioria de nós não ganha propriamente para processos de 50 ou 100 euros.
À DECO? é uma possibilidade. Mas eles podem mudar leis e estatutos de empresas? Não!
Ao Estado? AH AH AH AH AH AH AH

A Segurança Social não funciona. As normas e programas que dizem ter implementado para melhorar a capacidade e qualidade de resposta, aligeirar os processos e dar apoio social são uma fraude. E quando se pede uma informação a resposta é "não sei" ou "veja na net" ou "boa sorte". Quem sabe? É que na net.... niente!
E os serviços acabam por ter de ser complementados e suportados pelos próprios beneficiários, é que os descontos nos salários para a Segurança Social são para os carros pomposos e suporte das estruturas, nada mais...

As empresas monopolistas de gás cobram o que querem.... que alternativas existem? Não há concorrência... certo?
Então para se mudar um contrato de um titular para outro paga-se mais de 50 Euros para estabelecer uma ligaçao que já existe e se encontra em funcionamento??
Mais de 50 Euros? Vão ligar o quê?
E depois há uma inspecção....a ligação é nova e já tinha sido inspeccionada e aprovada!!!!

As empresas de serviços de ADSL tentam a todo o custo ganhar o máximo por meios ilícitos, com deficientes serviços, linhas telefónicas de suporte ao cliente que foram criadas para facturar ao minuto valores astronómicos, velocidades de navegação inexistentes mas que só se descobre depois de se assinar o contrato porque antes ninguém sabe e garantem o que vendem.

Fazem-se buracos nos passeios para concerto de canalizações ou telecomunicações. E lá fica o buraco por tapar semanas a fio. ok! Para assentar terra com as chuvas. Tantas semanas?? E depois quando finalmente montam tudo, montam os empedrados ao contrário, deformando os desenhos anteriormente projectados no passeio. É que nem um tampo de um esgoto sabem por direito.

E as estradas sem passeios perto de escolas e paragens de autocarro? E depois falam de prevenção rodoviaria...
....é suposto as pessoas voarem das paragens para casa??? E as crianças, que segurança têm nesses casos?

Montam-se pinos de divisória entre estradas e passeios, para evitar estacionamentos indevidos, que mais parecem espetos apontados ao céu, à espera que alguém tropece e lhes caia em cima. Mas ninguém pensa isto?

Investem-se milhões num TGV, mas e a educação? E a justiça? Não seriam esses dois polos mais lucrativos a médio e longo prazo? Depois já podiamos ter o nosso TGV.
Mas não.... incultos e sem formação especializada, a justiça é só para alguns, mas o TGV já cá canta!

Exemplos banais, face a outros tão mais importantes e graves.

Com níveis de produtividade baixissimos, baixos salários, custo de vida elevadíssimo, sistema de educação que mete dó, transportes insoficientes, justiça que mal funciona, policiamento deficitário, saúde de rastos, apoio social inexistente... e ainda cá estamos, firmes e hirtos, se bem que bastante amolgados e um pouco ferrugentos.

Onde vamos parar?
Ao mesmo de sempre... sobrevivemos orgulhosos de nós mesmos, dizendo mal de tudo e todos, mas sorrindo a cada hora que passa, e celebrando cada novo ano com renovada esperança.

Pronto!
Há bons exemplos. Há sim!
Há excelentes profissionais em várias áreas, ou melhor, em todas elas, e conheço bastantes.
Mas por qualquer razão parecem ser a minoria, ou então não têm a força suficiente para mudar o resto "da turma".

Sinto-me impotente por sentir que pouco ou nada posso fazer. Faço a minha parte, mas o impacto é tão nulo... ou sou eu que não lhe sinto o cheiro?
Faço trabalhos mas muitas vezes na direcção errada, porque foi essa a direcção que me traçaram. É só um emprego, um ganha-pão... mas não será com este pensamento que permitimos que as coisas assim permaneçam? Incoerentes, sem sentido?

Arregaçamos mangas e procuramos outra revolução?
Fora de moda, fora de tempo, fora de tudo, e é maior o prejuízo que o proveito.

Não vejo saída, senão uma demasiado lenta, se é que esta saída virá. Presumo que daqui a 50 anos nos estejamos a queixar exactamente do mesmo.

Saír do país sempre me pareceu uma solução lucrativa. Emigrar para um país organizado, com bom nível de vida.... só não será o meu país, e não terá as minhas raízes.
E será que isso é fugir?
Não enfrentar as dificuldades e tentar melhorar o nosso estado d'alma será a solução?

Não sei!
Mas que estou cansado de toda esta desorganização, pela falta de respeito pelas pessoas e pelos seus direitos, pela falta de responsabilidade, pela falta de brio e empenho, pela falta de coerencia, pela falta de atitude...
...e falando de atitude, qual será a minha?

Um dia li na porta de um director, colocado por graça:

"Teoria é quando tudo se sabe mas nada funciona.
Prática é quando tudo funciona mas ninguém sabe porquê.
Aqui a teoria e a prática andam de mãos dadas, nada funciona e ninguém sabe porquê!"


...mas sobrevivemos!

Tuesday, March 24, 2009

Banalidades...




...de tanto assunto para escrever e discutir, o que me vai cair mesmo bem daqui a pouco é o risotto de legumes e abacate que estou a preparar (cozido na água de cozer os legumes), muito simples e acabadinho de inventar, que me vou servir com orégãos e salsa picada e umas raspas de parmesão (porque sou louco por queijo, e adoro o parmesão, e acho que liga bem), e não esquecendo a pimenta acabada de moer...


[momento risotto de legumes com parmesão]


...cheirinho...




volto mais logo...
...volte também!
;)

Tuesday, March 3, 2009

Como Água para Chocolate


Existe um livro, excepcional por sinal, chamado “Como Água para Chocolate”, da escritora Laura Esquível. É um livro que relata a vida de uma rapariga de uma aldeia mexicana, dos hábitos locais e da respectiva cultura. O livro encontra-se dividido em 12 capítulos, cada um alusivo a um mês do ano, cada mês com uma receita diferente.... e que receitas...
:D


Mas porquê este título?

Quando li o livro (já lá vão uns anos) não entendi o sentido do título com a história que se desenrolava, até que decidi procurar uma entrevista à autora, em que esta explica o respectivo sentido. Parece que os Aztecas não usavam leite para fazer chocolate - usavam água. O cacau era misturado na água quente no momento imediatamente anterior ao seu estado de ebulição, de modo a obter-se uma mistura liquida e cremosa com aromas e sabores “mágicos”. Naturalmente os Aztecas misturavam mais ingredientes, mas isso agora não interessa ao propósito deste post.

E então sim, lendo o livro o título passou a fazer todo o sentido.

“Como Água para Chocolate” é uma expressão mexicana para descrever o estado de espírito de alguém prestes a entrar em extrema ruptura, em exaltação exacerbada, em revolta violenta, ...enfim, o momento exacto antes de lhe saltar a tampa!



Hoje, estou como água para chocolate.

O dia de hoje não me começou cinzento, embora começasse um pouco cedo. Não acordei especialmente cansado, nem me deu aquela sensação de falta de vontade de sair daquela cama que me agarra as pernas e me reconforta o corpo. Nem me senti como um gato preguiçoso, aconchegado no seu leito, e que de repente alguém o puxasse cá para fora, para o frio, vento e chuva, ou lhe desse com um grande balde de água gelada (sem esquecer os cubos de gelo).
Não...nada disso!

Piurço, furioso, enraivecido, e desiludido mais uma vez com a falta de profissionalismo e de ética deste país.

Este mundo de negócios é frio, desumano, insensível e desrespeitoso. O mundo público não anda melhor. Vive-se de ilusões, mentiras e enganos. Mais vale parecer que ser. Não importa a honestidade, a verdade, a consideração nem o respeito... apenas o seu próprio umbigo, e a qualquer meio e preço!

É verdade que nada disto é novidade, que nada disto é novo, e que há muito me apercebi desta triste realidade. No entanto, e nos momentos em que sou directamente abatido por ela, não deixo de me sentir, mais uma vez, triste, desiludido....e nalguns momentos, como água para chocolate!

Dá vontade de saír de vez daqui. E por mais que encontre semelhantes situações noutros locais do globo, ao menos que sejam mais organizados e demonstrem um nada mais de brio e profissionalismo... e atitude!

Uma mudança a sério, é o que isto está a precisar.
Ou então…deixar a água ferver e...


Só aguardo o fim deste dia, para que seja semelhante ao da história do livro aqui referido, mas sem as consequencias literalmente escaldantes...

Nota adicional: com um povo e uma cultura tão absolutamente fantásticos, alguma coisa tinha mesmo de ser do contra.