Wednesday, February 25, 2009

Houdini

Hamster Siberiano.
Branco, cinzento e uma fina lista negra.

Foi um dos dois hamsters que escolhi para me fazerem companhia.
Ao príncipio ganhei-lhe aversão. Era arisco, agressivo, rezingão. Rapidamente começou a violentar o parceiro, que para além de bastante ensanguentado ganhou um valente piercing numa das orelhas. Tive de o retirar da gaiola - um T3 gigantesco para dois hamsters, com tubos e roda giratória, casa, água, comida....

Coloquei-o temporariamente numa caixa de sapatos, com comida, água e um refúgio com material para fazer a sua cama. De nada adiantou. Rapidamente conseguiu fazer um buraco para escapar. Apanhei-o a tempo durante a noite, tal não era o barulho de roer o cartão duro da caixa.

Segunda temtativa... coloquei-o num tacho velho em desuso, cuja altura era o dobro dele de pé... e esticado. Mais a comida, água, etc. Pouco durou... de alguma forma misteriosa conseguiu escapar. Andou desaparecido durante 3 dias. Procurei e não encontrei. Nem rasto, nem cagadelas para sinal de vida, nem nada. Nem mesmo com um monte de comida estrategicamente colocada.... nada! A empregada limpou a casa toda, também procurou... e nada!

Convenci-me de que tinha efectivamente escapado. Enfim... também não lhe tinha grande estima. O raio do bicho não parava quieto, era violento, agressivo e rezingão. Se queria desaparecer, pois que fosse feliz. Pronto... fiquei um pouco triste, mas de facto não lhe tinha grande estima. E ao menos assim já não tinha de comprar outra gaiola.

No entanto, ao fim de três dias, eis que ele aparece na sala... anda calmamente meio metro, pára, levanta as patas da frente, olha a toda a volta, cheira o ar, volta a andar calmamente mais meio metro, pára, levanta as patas da frente.... Fui ter com ele, apanhei-o, ou deixou-se apanhar, e nem refilou muito. Coloquei-o de volta no tacho, mas tratei de encontrar uma caixa de cartão com meio metro de altura. Coloquei tudo o que tinha direito, e até uns tubos para ele se entreter. Comeu e bebeu como se não houvesse amanhã. Raio do bicho., estava faminto.

Ganhou nome - Houdini.
Depois ganhou outro... Rezingão. Assim ficou, Houdini Rezingão.
Continuava agressivo, e muito mas mesmo muito rezingão. Tentou inúmeras proezas para escapar, e até conseguiu fazer mais um buraco no cartão grosso... mas desta vez eu andava atento. Um buraco, uma revista de meio centimetro e bem rija a tapar. Uma escalada, mais um obstáculo. E assim por diante.

É engraçado, refilava, mas deixava-se pegar. Ameaçava morder e arranhar, tal não era o barulho ameaçador que produzia e a posição de defesa Aikido, de garras em riste e dentes em posição de ataque. Mas lá se deixava pegar. E uma vez na mão, cheirava e partia à descoberta do braço, ombro, e assim por diante... Não parava quieto. E nunca mordeu.

Dentro da caixa chegava a fazer sapateado. Sim... sapateado! Pronto, não era sapateado, mas punha-se de pé a olhar para mim e batia com as patas de trás no chão alternadamente e tão rápido que o som parecia sapateado, e de vez em quanto ía girando ao mesmo tempo, tipo aquelas bonecas bailarinas das caixinhas de música. Também dava pulos, e por vezes caía enquanto olhava para cima. Cada vez que lhe chegava a mão, refilava, ameaçava, mas deixava-se pegar e logo partia à descoberta do que pudesse. Não parava quieto, na caixa ou na mão. Durante a noite a caixa parecia uma serração.... toda a noite! Roeu revistas e cartões como se fosse vital para viver.

Ganhei-lhe gosto. Afeiçoei-me. Era fantástico, e sentia um orgulho enorme no Houdini. Já planeava a gaiola para ele.

Faleceu hoje, dia 25, às 2:45 da manhã.
Sofreu de prolapso rectal.

Num dia estava optimo. No dia seguinte tinha centimetro e meio de intestino de fora. Preocupado e sem saber do que se tratava, procurei na net. Encontrei inúmeros casos, quase todos fatais. O Houdini mal reagia, nem refilava. Deixava-se estar quieto, enrolado em si no centro da cama que ele próprio tinha preparado num local diferente daquele que eu lhe tinha destinado - o bicho era mesmo do contra!

Procurei mais informação, mas a esperança era curta, e o fim mais provavel era uma eutanásia. Mesmo em caso de sucesso de uma cirurgia, a recuperação não era garantida num caso tão avançado. E ainda teria de aguardar meio dia para ser assistido. A maioria dos sites adiantavam poucas horas e vida sem tratamento, e uma semana ou duas em caso de cirurgia. Raros eram os casos de sucesso.

Depois de muito pensar e analisar, tomei a decisão de acabar com o sofrimento. Uma dose de alcool e um Aspergic 1000 dados a custo deram conta do recado. Foi engolindo e perecendo, até que deixou de bater o coração.

Éra um hamster. Apenas isso. Um rato!
Nada de mais.
A principio custou-me o sofrimento do bicho e a perda do Houdini. Mas no fim, doeu-me a forma como sofreu, a resistência ao cocktail e o ultimo movimento que lhe senti. Fiquei triste, e observei-o durante alguns minutos. Quis ter a certeza de que estava mesmo morto. Não podia correr o risco de estar somente inconsciente. Passados longos minutos estava oficializada a morte. Limpei-o dos restos do cocktail dentro de água, e assim mais uma vez garanti que não respirava.

Sentimentalismos, mas que fazer?
Somos assim mesmo...

Dos dois, resta o Kamikaze. O outro hamster siberiano. Mas desse falarei noutra altura, e espero que por motivos diferentes.

Sunday, February 22, 2009

Evolução da espécie?

Há dias discutia sobre a evolução do ser humano, e de como estavamos a mudar nestes últimos anos.

Alguém muito próximo e já com bastante experiência de vida me dizia que a tendencia da humanidade era cada vez mais espiritual para uns, e mais humanitária para outros, sendo que na globalidade isso se estava a demonstrar de tal forma marcante que se tornava uma tendencia natural da humanidade no seu todo, e de que dentro de algumas décadas o nosso modo de vida social seria totalmente diferente - mais humano, mais sentido.

Neste ponto, posso ser considerado de pessimista, mas creio-me apenas realista e, nalguns aspectos, até mesmo optimista...

Não creio que a humanidade esteja a evoluir. É verdade que olhamos os eventos que nos rodeiam com outros olhos, que temos cada vez mais explicações científicas para o que nos rodeia, e também para a nossa própria maneira de ser e de funcionar. É verdade que nos conhecemos melhor e que mais facilmente conseguimos controlar as nossas reacções. É verdade que a nossa evolução científica e tecnológica está cada vez mais audaz... É verdade que, nalguns aspectos, evoluímos extraordinariamente rápido, principalmente no último centenário.

É verdade que comunicamos mais, e que o mundo se torna cada vez mais uma pequena aldeia.

Contudo...
...somos exactamente os mesmos que há 3.000 anos trás, ou 5.000, ou....

A verdade é que se lermos histórias de outros tempos, de há 1.000 ou 5.000 anos trás com base em documentos escritos na época, e substituírmos a tecnologia dessa época pela de hoje, e as interpretações passarem de religiosas ou místicas a científicas (e mesmo assim essa substituição nem sempre é necessária), essas histórias são exactamente iguais às de hoje. E acreditariamos nelas com se tivessem passado com alguém do nosso próprio meio social.

Não mudámos nada, absolutamente nada.

Péssimismo? Talvez... fatalismo, ou o que lhe quiserem chamar...
Julgo que para uma verdadeira mutação será necessária uma alteração mais profunda da nossa mente, na nossa espécie, e, no meu entender, isso levará mais que as passadas 300 ou 400 gerações dos últimos 5.000 anos (se me enganei nas contas, paciência, mas mantenho o meu fundamento).

Optimismo? Talvez... ingenuidade, ou o que lhe quiserem chamar...
Julgo que se nos fomos capazes de manter vivos até aqui, talvez nos consigamos mater por mais 5.000 anos.

O ser humano existe já há umas valentes dezenas de milhares de anos. É certo que nunca como agora dispôs de armamento de destruição massiva, nem poluía o mundo da forma tão estúpida, grave e sem sentido como fazemos hoje.

Ainda assim, é um ser adaptativo, de pequenos grandes feitos, com grande genialidade, muita loucura, exuberância e depressão, generosidade e de rasgos profundos maquiavélicos, e tantas mais qualidades como defeitos. Mas é o mesmo de sempre, sem mais nem menos, pelo menos desde que existem registos históricos sobre a sua vida.


Uma vez pergutaram a Confúcio:
- O que mais o surpreende na humanidade?
Confúcio respondeu:
- Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
E concluiu:
- Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido...

[Confúcio - China: 551 a.C. - 479 a.C.]

Saturday, February 7, 2009

Desafio

Fui desafiado, e aqui está uma resposta ao desafio.

O desafio partiu da amiga Najla, com quem afinal simpatizei a partir do primeiro contacto virtual.
;)

Muito mais poderia dizer, e porventura até mais interessante que o que aqui vos deixo... mas assim de repente foi o que me surgiu. Talvez noutra altura algo mais interessante saia desta cartola minha cabeça...


Os seis factos aleatórios da minha pessoa são....

uma >> apesar de adorar organização, sou absolutamente desorganizado
(mas onde é que eu deixei as chaves do carro?)

outra >> tenho mudanças súbitas de humor, entre o meio depressivo ao totalmente exuberante, mas a boa disposição e o bom humor acabam por prevalecer - e muitas vezes riu-me de mim próprio
(e as chaves estavam mesmo.... no comments!)

e mais outra>> corto o meu próprio cabelo (já lá vão uns 3 anitos) por detestar esperar no cabeleireiro (ou barbeiro, conforme calhar), pela dificuldade que é encontrar um lugar de estacionamento, ou por estar limitado a horários e disponibilidades... e assim até já cortei o meu cabelo às 4 da manhã, que foi quando me apeteceu!
...e com excepção de um destes dias já não me barbeio há uns 3 anos (só aparo, e não uso barba), mas aqui os motivos são outros...
(manias!)

e ainda >> adoro comer e preparar comer, é relaxante, um escape ao stress e um desafio à imaginação - não sigo receitas... invento divertidamente (talvez por isso às vezes saia cada b...)
(e depois alguém que limpe a cozinha... ooops, mas eu vivo só-zi-nho....)

e não esquecendo >> adoro chocolate... branco, de leite e especialmente o negro! Mas também adoro pastelaria fina, e pasteis de nata, e bolas de berlim com creme, e...
(ai...a balança, as análises, e este belo e redondo almofadado frontal)

por fim, mas não por último >> Gosto de quase todas as culturas com as quais contactei, e outras das quais só ouvi falar, mas tenho uma panca pelas latino-americanas (especialmente a Cubana) e pela espontaneidade africana, e uma total doidice por conhecer a Austrália e a Nova Zelândia
(haja tempo, haja dinheiro, porque vontade já existe que chegue e sobre)


Lamento não passar este desafio a outros seis blogs.
Gostei do desafio, e tenho a certeza de que todos receberão o mesmo por cadeia... porque confio que dos seis desafiados dos quais fiz parte, pelo menos metade vão passar o "testemunho".

:)

Tuesday, February 3, 2009

Pensamentos

No meio de todas as mudanças, pergunto-me se estarei a mudar no caminho certo.

Certo...é que precisava de mudar, e ainda sinto que preciso.
Incerto...é o caminho que tenho estado a percorrer.

Nas mudanças que aceitei, por um lado, e que decidi implementar, por outro, algo correu muito diferente e os planos não resultaram exactamente como previsto.

Por um lado, algo de absolutamente magnífico sucedeu contra todas as minhas expetativas. Trata-se de algo que influencia o meu lado mais pessoal, mais íntimo, e nada me deixaria mais feliz que a surpresa de ter encontrado uma alma gémea numa altura em que não a procurava.

Apesar de muitas mais mudanças precisar que ocorram no plano pessoal, e provavelmente algumas nem conseguirei executar, algo me diz que neste plano estou no caminho certo.

Por outro, e no plano profissional, embarquei numa aventura arriscada que não resultou. Poder-se-ía dizer que foi falta de empenho ou inadaptação da minha parte - acontece - mas a verdade é que o que sucedeu até nem teve qualquer origem na minha performance. Sucedeu porque alguém apostou errado, errou nos cálculos, escondeu factos, não foi frontal, e só os divulgou por obrigação em cima do momento.

Pergunto-me até que ponto as nossas escolhas não serão de alguma forma condicionadas para que façamos um caminho específico. E que por mais que escolhamos um ou outro percurso, acabamos sempre por ser levados a um outro que forçosamente temos de percorrer.

Isto vai de encontro àqueles que acreditam no destino, e que temos algo a concretizar, dê por onde der.

No entanto, e partindo do príncipio de que tal é verdade como forma de equilíbrio de algum nível de energias, como conseguir antecipar e escolher o caminho certo?

Tenho planos, projectos, que requerem tempo, formação e alguma experiência. Tempo que decidi adiar, formação e experiência que decidi obter noutra altura. E agora, que falta me fazem...

Certo...é a felicidade que sinto quando olho nos olhos dos meus amigos, e de quem mais amo.
Incerto...é conforto financeiro que conseguirei ter ao longo dos próximos tempos.

Certo...é que apesar de tudo o que possa suceder no plano profissional, sinto-me capaz de dar a volta por cima, e sentir-me feliz com quem escolhi estar.

Certo...é vivermos assim do que sentimos, e não dos bens que podemos obter.