A paixão pelo trabalho é imperativa?
Numa altura em que muito se discute sobre a competitividade, produtividade, as condições de trabalho, métodos organizacionais, estratégias empresariais e crises económicas, não estaremos a negligenciar o mais importante?
No meio de tantas teorias e reorganizações, muitas vezes esquecemo-nos daquele factor x, ou subestimamos a sua importância, que é aquele que verdadeiramente nos impulsiona a ser brilhantes e a fazer toda a diferença. Levantamo-nos de manhã cedo (pelo menos alguns), cumprimos todos os rituais e obrigações, deslocamo-nos para o local de trabalho, assimilamos obstáculos, problemas e dificuldades, encontramos soluções, discutimos estratégias, implementamos normas e, por fim, voltamos a casa (pelo menos alguns), para aquele ambiente familiar e, normalmente, reconfortante, contentes por ter sobrevivido mais um dia, e cooperado para mais um passo em frente no que quer que seja em que nos vejamos envolvidos profissionalmente. Os dias passam, e ao fim de algum tempo passamos os dias como máquinas, fiel a metodicamente a executar todas as nossas funções profissionais, tipo robots programados para todas as eventualidades, prejuízos e sucessos alcançados, e por fim lá nos tornamos resistentes à mudança, àquele pequeno abalo na nossa rotina quotidiana.
No entanto, algo de mágico sucede com constante ocorrência quando nos envolvemos em projectos pessoais, sejam estes de carácter lúdico ou não. Tornamo-nos mais pró activos, mais dispostos à mudança, menos exaustos, mais enérgicos, e questionamos, sempre, se não poderemos melhorar o que estamos a fazer, seja essa melhoria meramente processual ou até técnica. Encontramo-nos em constante recriação, e sentimo-nos bem por isso.
A ideia de que o local de trabalho é algo mecânico e muito sério é, simplesmente, retrógrada. E apesar disso, é precisamente essa a ideia que vinga, entenda-se como aplicação prática como norma, na maioria dos casos.
Afinal, não será a nossa criatividade, o nosso pequeno génio, as constantes mudanças, que dão origem às melhores performances? Não será a paixão que nos faz conseguir tudo isso? Hoje, ainda muitas empresas aplicam normas demasiado rígidas tornando-nos todos iguais, e muito desapaixonados. É diminuto o investimento no seu capital mais valioso, e o incentivo a uma atitude corporativa clonada é desmesurada. Por um lado compreende-se essa estratégia de gestão de pessoal, mas algo de muito valioso se perde no capital humano.
Por coincidência, quando criava este artigo, estava a decorrer no Centro de Congressos do Estoril o SAP Business Forum, onde um dos oradores convidados foi o Gary Hamel (www.garyhamel.com). Assim, decidi substituir a conclusão deste artigo por uma ideia deixada por este especialista da estratégia empresarial, no início da sua intervenção no evento.
O que é que os gestores de topo mais procuram nos seus colaboradores? Obdiência, inteligência e diligência. Mas a verdade é que tudo isso também se consegue obter de um cão!
A diferenciação entre as pessoas pela obdiência, inteligência e diligência é dificil de se atingir. Por forma a que se consiga derrotar a popularização, a perda de diferenciação, as empresas vêem-se obrigadas a disponibilizar um valor único aos seus clientes, que só pode ser conseguido através de colaboradores com iniciativa, criatividade e zelo pela sua profissão no seu dia-a-dia.